Método dos custos conjuntos

Prof. Cristiano Desconsi

Os sistemas agroecológicos caracterizam-se por serem sistemas que combinam a utilização de alguns recursos comuns (terra, estrutura física) para a produção de diversos produtos. Policultivos, integração entre produção animal e vegetal, sistemas agroflorestais, dentre outros são exemplos de sistemas que geram mais de um produto e combinam o uso de recursos do agroecossistema. Como vimos, o método de análise de custos tem como perspectiva associar o uso de um conjunto de recursos para gerar um produto único, permitindo, a partir disso, definir o custo de produção deste produto. Mas como fazer quando este sistema combina diversos produtos que são cultivados no mesmo período, exigindo recursos específicos e outros não?

Para dar conta disto é preciso adaptar os métodos de acompanhamento, cálculo e análise dos custos que foram pensados para monocultivos. Na indústria este problema já foi objeto de reflexão, quando em uma parte da linha de produção básica, derivavam sublinhas das quais geravam-se produtos específicos. Examinar este sistema em termos dos custos, implica em observar que parte dos custos são conjuntos (de vários produtos) e apenas uma parte específica. Isso motivou o desenvolvimento do chamado método dos custos conjuntos.

A grande questão desse conceito consiste em como distribuir os custos conjuntos pelos diversos itens que resultam do mesmo processo produtivo (BATALHA, 2013) Para saber o que é conjunto, observa-se que, a partir da entrada de determinadas matérias primas os custos conjuntos se referem a uma etapa inicial do processamento. A partir de certo ponto há uma separação da produção em várias sublinhas que irão gerar os diversos produtos. Nestas linhas específicas, o tempo de produção, necessidade de materiais, energia, embalagens é específica do produto que a ser produzido.

Queremos obter a ideia do método conjunto para o trabalho com custos de sistemas agroecológicos. Na observação da organização e funcionamento destes sistemas, é possível observar um ponto de partida comum, por exemplo a área de terra e os produtos que serão cultivados por um determinado período (ex: período de inverno ou verão, meses do ano). Ao identificar que nesta área será realizado o cultivo de três tipos de hortaliças em policultivo num mesmo período temos em questão uma área que irá gerar três tipos de produtos finais. Então não vamos procurar separar no processo de acompanhamento e cálculo quanto adubo orgânico foi utilizado para a hortaliça A, B ou C. mas considerar a adubação, quantidade e preço como um item de custo conjunto. O mesmo se repete ao uso do trabalho no plantio, manejo e colheita, operações de preparo de solo, instalação de sistemas de irrigação e uso de agua, etc. No caso dos custos específicos, diferente do exemplo linear da indústria, pode haver recursos que são facilmente identificados como específicos da área. Por exemplo: tem-se sobre uma mesma área um sistema de cultivo consorciado com hortaliças, mas atravessado por linhas de tomate com sistema de arqueamento. Neste caso, o sistema de arqueamento é exclusivo do tomate e faz sentido, associá-lo somente a este produto no final.

Então vale considerar como custos específicos aqueles considerado de maior relevância e que se associam exclusivamente a um produto. Esta especificidade pode estar em qualquer fase da produção como também no pós colheita (com especificidades no armazenamento, custos de comercialização e embalagens, por exemplo). Talvez de uma mesma área em um determinado período de tempo, são gerados tomate cereja (rasteiro), couve e acelga. Todos os custos até o momento da colheita podem ser considerados conjuntos, mas no pós colheita o tomate cereja exige embalagem própria e envolve um custo específico de rotulagem para acesso a uma rede de supermercado. A embalagem e a rotulagem são específicos do tomate e devem ser comparada com seu preço de comercialização.

Custo conjunto e específico durante o processo de acompanhamento dos ciclos produtivos.

No caso do acompanhamento basta inserir uma coluna adicional nas tabelas de custos da caderneta de campo. O ítem de custo é registrado em lista geral, mas quanto este pode ser específico de um dos produtos, basta assinalar o nome do produto na coluna adicional o custo é específico de um dos produtos, de qual deles. Quando é conjunto não precisa registrar nada na coluna.

Tipo de gasto

Quantidade

Valor Unitário

Valor Total

Obs (específico?

Adubação orgânica

3 toneladas

70,00

210,00

 

Embalagem

100 unidades

1,00

100,00

Tomate cereja

 

Essa coluna adicional pode estar presente em todas as tabelas de registro dos custos que você avalie ser pertinente realizar a inclusão (tabela de horas de trabalho, tabela dos gastos, da manutenção das máquinas e equipamentos, etc).

A análise gerada pelo método ao final

Este trabalho de identificação no momento do acompanhamento, permite que, posteriormente, organizar os custos e compará-los com a receita gerada. No caso do registro das receitas geralmente elas são específicas de cada produto, visto que a quantidade produzida e o preço de venda, se referem a um produto isoladamente.

Isso permitirá elaborar uma análise de resultados como o exemplo abaixo:

 

Produto A

Produto B

Produto C

Receitas

 

 

 

Custos conjuntos rateados pelo volume de produção

 

 

 

Custos específicos

 

 

 

Soma dos custos conjuntos e específicos

 

 

 

Resultado Financeiro

 

 

 

 

Observação: esta forma de apresentação, não dispensa a utilização da Metodologia do Custo Operacional (que conheceram em outro material deste curso). Pelo contrário, ela complementa a mesma.

 

Bibliografia

SCRAMIM, L. C: BATALHA, O. Método dos custos conjuntos. In: BATALHA, O. (Org). Gestão agroindustrial. São Paulo, 3ª Edição, Editora Atlas, 2013. p.448-454.

Última atualização: segunda-feira, 10 out. 2022, 22:14