Troca de cartas

Carta à Bianca Gonçalves Alexandre

Carta à Bianca Gonçalves Alexandre

por Fernanda Porto Correa -
Número de respostas: 1

Olá, Bianca!

Minha sugestão de tradução é uma letra de música/poesia adaptada que me toca profundamente, por muitos motivos. A cada performance, a cada leitura, a cada voz, fico sempre muito comovida. Chama-se Strange Fruit, já é uma senhora com seus mais de 80 anos e foi, na verdade, adaptada pela cantora Billie Holiday de um poema (Bitter Fruit) escrito por um professor horrorizado pelos linchamentos contra pessoas negras no sul dos Estados Unidos.

Apesar de compartilhar aqui uma versão imortalizada pela própria Billie, em 1959 (e da existência de tantas outras marcantes), tomo a liberdade de sugerir também Nina Simone, dez anos depois. Pra mim, a favorita, e quase uma definitiva. Ouso dizer que foi até um divisor de águas na minha vida, com um antes e um depois de conhecê-la. Devastadora e dilacerante, só como a perversidade do racismo pode ser.

Sobre sua adequação ao contexto atual, bom, acho que nunca conhecemos cenário muito diferente, que fizesse dessa obra algo quase inverossímil. 

Obs.: Os vídeos são, em si, performances e narrativas visuais à parte, especialmente o da Nina. Se quiser conversar mais a respeito, vou adorar. 

Um beijo.

 
STRANGE FRUIT
 
Southern trees bear a strange fruit
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swinging in the southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees
 
Pastoral scene of the gallant South
The bulging eyes and the twisted mouth
Scent of magnolia, sweet and fresh
Then the sudden smell of burning flesh
 
Here is a fruit for the crows to pluck
For the rain to gather, for the wind to suck
For the sun to rot, for the tree to drop
Here is a strange and bitter crop
 
 
 
Em resposta à Fernanda Porto Correa

Re: Carta à Bianca Gonçalves Alexandre

por Eleonora Frenkel Barretto -

Canções maravilhosas, cruéis e verdadeiras. Que a arte possa continuar criando espaços de enfrentamento a tantas formas de violência e que a tradução possa ser um dos modos de desdobrar em muitas vozes os gritos que as denunciam.

Obrigada, Fernanda, por trazer a memória dessas grandes mulheres.