Prezada Anna Karoliny dos Santos Silva
Inicio assim nossa troca de correspondência, talvez de uma forma um tanto formal, mas à míngua de informações sobre você, sobre suas preferências e suas línguas de interesse, talvez esse seja o tom mais adequado (ou talvez seja o mais adequado para aquelas mensagens em garrafas jogadas ao mar... quem sabe dessas coisas?)
Levando em conta o que sei de você, que é apenas seu nome, lembrei-me de um escritor paraguaio, Mario Halley Mora, que tem uma peça teatral cujo nome é "Un rostro para Ana".
É um autor praticamente desconhecido no Brasil. Juntamente com a colega Maria Liz arriscamos vertê-lo ao português em três oportunidades:
- Caderno de fiado (https://periodicos.unb.br/index.php/caleidoscopio/article/view/23346): uma narrativa de reconstrução de um caderno de fiado encontrado. A narrativa é envolvente e a construção me pareceu bastante original;
- Seleção de microcontos (https://seer.ufrgs.br/philia/article/view/99406): o autor, que era também jornalista, experimenta com narrativas curtas, nas quais se pode notar vigor, crítica social e ironia.
- Fita Gravada (https://periodicos.unb.br/index.php/belasinfieis/article/view/22981). Esta tradução é apenas da colega Maria Liz, com uma incursão sobre aspectos sociolinguísticos, em especial pelo uso do guarani.
Para a performance, portanto, recomendo as obras teatrais de Halley Mora (ainda não traduzidas).
Quanto à importância e à validade da tradução dessas obras acho que podemos destacar os seguintes aspectos:
- É um dos mais prolíficos escritores paraguaios, tendo escrito desde teatro, romances, poesia, letras de canções etc.
- Trata de realidades afetas a um país e a uma cultura que está fora do eixo tradicional de produção;
- Explora o uso de uma língua pré-colombiana que insiste em se impor;
- Além do uso do explícito do guarani, é importante por fazer refletir sobre o espanhol paraguaio;
- Apesar da vasta produção, é um autor que atualmente está esquecido.
Enfim, Anna, espero que essas minhas considerações provoquem em você o anseio de conhecer Mario Halley Mora.
Atenciosamente (colocaria um abraço, mas optei por uma linguagem formal... e não a cumpri no texto, mas tudo bem)
Luiz Roberto Lins