Neovocalidade e Intermidialidade

Comentário "sobre a potência dessa ideia"

Comentário "sobre a potência dessa ideia"

por Bernar Costa de Carvalho -
Número de respostas: 1

É impossível olhar para esses vídeos e não pensar na relação do corpo na performance. Não me refiro ao corpo como um instrumento a ser somado na vocalização do poema ou canção, me refiro ao corpo que produz a voz que ecoa o poema, que possui os olhos que leem o texto, que reflete seus posicionamentos e que é social e historicamente construído.

Na nossa sociedade grafocêntrica é comum que entendamos como história somente o registro escrito daqueles cuja palavra é ungida pelo poder socioeconômico, se no inicio tudo era o verbo na tentativa de controlar a narrativa do mundo a verdade foi monopolizada através dessa ideia de registro histórico de documentos oficiais, mas fora esquecido que verbo é a apalavra de ação.

Assim como a palavra é socialmente construída, também é o corpo. A palavra Nazismo causa impacto não por sua forma, mas pelo que significa, pela história de opressão e genocídio que carrega. Da mesma maneira o corpo não só possui história, como nos conta essa história ao se mostrar. Um homem preto num programa de televisão ostentando seu Black Power conta uma história, a mulher que raspa seu cabelo e desafia uma sociedade que associa cabelos longos com feminilidade conta uma história, o corpo da travesti que demonstra domínios sobre seus sapatos de salto conta uma história, e um corpo indígena que desafia um homem branco de terno no senado, assim como a contraparte, também conta uma história.

Essas histórias se fazem presentes nos vídeos selecionados para o curso, presente nos braços de Luiza Romão ao apontar a violência da nossa colonização no seu Slam, presente na dança que acompanha o canto dos Kayapó, presente na escolha das peças usadas por Marcia Kambeba ao recitar seu poema, presente também em cada detalhe do vídeo de Bia Ferreira. Emicida na musica Ubuntu Freestyle versa “Eles não vão entender o que são riscos
E nem que nossos livros de história foram disco” se referindo não só aos diferentes riscos de sofrerem violência que diferentes corpos passam, bem como à existência de uma história que não é contada por registros oficiais, mas contadas por vozes, vozes essas que compõem corpos.

Numa proposta de arte intermídia onde a artista se expõe como parte da obra, seja para o julgamento dos jurados do Slam ou para os comentários protegidos pelo anonimato no Youtube, esses corpos fazem parte da poesia e consequentemente essas histórias de resistência também. Não, essas performances não são reféns dos corpos que servem de veiculo para suas interpretações, mas assim como a fonte escolhida para o texto escrito altera a recepção aos olhos do leitor, o corpo de quem performa é parte da obra que compõe.

Em resposta à Bernar Costa de Carvalho

Re: Comentário "sobre a potência dessa ideia"

por Eleonora Frenkel Barretto -

Boa reflexão. E muito bem colocado o exemplo de Emicida. Acho que é por aí, há muita história sendo contada por outros canais, outros meios, que não são os hegemônicos. E esse é um lado que se amplia com as mídias livres.