Neovocalidade e Intermidialidade

Neovocalidade

Neovocalidade

por Luiz Roberto Lins Almeida -
Número de respostas: 1

A performance realizada pelas artistas chama atenção por sua vitalidade: o texto pulsa nas veias saltadas do pescoço de Luiza Romão, que denuncia a colonização, emocionada deixa transparecer a angústia da vida em tempos de cólera. Bia Ferreira encara o problema, com voz firme, dedo em riste, apresenta sua verdade, tantas vezes apagada, embranquecida, esquecida, obnubilada. Por fim, Marcia Kambeba, evocando ensinamentos ancestrais, busca trazer à tona nossa origem esquecida.

Nesse passo, as intérpretes demonstram estar de acordo com uma performance mais moderna, mais contemporânea, extrapolando a mera frieza do texto escrito, fazendo-o conciliar-se com os sentimentos e sentidos últimos da mensagem.

Em resposta à Luiz Roberto Lins Almeida

Re: Neovocalidade

por Eleonora Frenkel Barretto -

Sim, Luiz, as performances são intensas, poéticas e políticas, e desfazem limites entre poesia e vida. No caso de Luiza Romão, o evento é um slam, uma ocasião em que a performance se realiza como co-presença dos corpos que falam e escutam. O slam, a poesia falada, os eventos na rua, os saraus na periferia das cidades são expressões importantes, espaços de empoderamento e resistência da juventude. Um fenômeno contemporâneo da poesia vocal. Creio que é importante que os estudos literários e culturais deem ouvidos a isso, pois há aí uma força da criação artística com a palavra que a abordagem textual da tradição ocidental europeia, da história da literatura, da regularidade das formas poéticas, não consegue captar.

E no caso de Marcia Kambeba e Bia Ferreira, cujas performances ocorrem mediadas por dispositivos de gravação?

Destaco a passagem do texto de Zumthor (Leitura 1), na p. 62, onde diz (em linhas gerais) que a civilização tecnológica sufoca o que existe de outras culturas e impõe o modelo da sociedade de consumo, e que frente a ela resistem as formas de expressão corporal dinamizadas pela voz; a isso ele está chamando de uma "nova era da oralidade", diferente da oralidade tradicional.

Penso que há ao menos duas coisas: como "outras culturas" não submetidas da mesma forma ao modelo de civilização colonialista europeu (ou que procuram resistir a ele) se valem de ferramentas tecnológicas para difundir seu trabalho, sua produção artística, suas formas de vida, suas cosmogonias? E como os dispositivos de controle que nos submetem cada vez mais diariamente se configuram também como meios de informação, comunicação, denúncia, expressão, manifestação artística e cultural?