Neovocalidade e Intermidialidade

Neovocalidade e Intermidialidade

Neovocalidade e Intermidialidade

por Fernanda Porto Correa -
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Para a neovocalidade, acredito haver uma potencialização de alcance por meio do registro imagético e sonoro (como a combinação da imagem em movimento e do som). Por outro lado, em geral, também não é possível desprezar as discussões acerca do (excessivo) apelo visual e midiático da contemporaneidade, que impregna as vivências e as narrativas com seus padrões de anotação, de moldura, de estética e de individualidade como espetáculo. Mas ao levarmos em conta as propostas do quatros vídeos, que nos provocam a pensar sobre a hibridização entre tradição literária, experiências sentidas e performadas no e pelo corpo, (neo)vocalização e novas mídias, vejo as últimas como meio que democratiza, de certa modo, os acessos à documentação e à promoção de pulsões criativas antes recusadas pelo sistema. Sendo o consumo literário em comparação às tecnologias audiovisuais financeiramente mais disponível, passar ao outro lado, isto é, ser autor/artista convidado e/ou autorizado a publicar e a se expressar em plataformas tradicionais é uma estrada de privilégios. A possibilidade do vídeo independente como meio para a autoria é, assim, mais livre de cânones e de aprovações pelos pares, graças também aos recursos da edição artesanal quase imediata, a uma maior emancipação com relação à publicação e à profusão de plataformas e produtos imagéticos correlatos. 

No quatro vídeos, observo uma subversão da tradição por meio dessa, em parte, democratização, que reduz os processos de lançamento da obra e do registro e faz uso da velocidade dos meios de comunicação. Essa subversão é, em si, uma tecnologia, algo que serve diretamente àqueles que não são componentes do establishment racista, classista e sexista que só expõe visualmente o que de fato lhe alimenta algum interesse econômico. A neovocalidade leva ainda a materialidade do corpo para lugares e públicos onde se é inviável estar presente, não precisando assimilar ou mesmo reduzir-se ao grafocentrismo para se fazer divulgada.

Finalmente, acho que há, sim, uma acomodação e até uma virada em dada medida a uma cultura de massas excessivamente imagética, mas que também desenha autonomamente a curadoria do conteúdo, do discurso, da denúncia, da reflexão, da memória, da arte, da história, do ponto de vista, da voz e da performance.