Neovocalidade e Intermidialidade

Neovocalidade e Intermidialidade

Neovocalidade e Intermidialidade

por Francine Mates Pedroso -
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A transmissão de ideias é uma das funções primordiais dos animais. Desde o início dos tempos, emitimos sons, gestualizamos, criamos gráficos cada vez mais rebuscados, entre outras formas, sempre visando passar uma ideia. Ainda assim, a transmissão pode ser falha, considerando que a ideia é algo que existe de um modo no universo do transmissor e muitas vezes de outro no do receptor.

Imagine-se um diálogo entre pessoas que se relacionam há muito tempo. Muitas vezes essas pessoas sabem o que outra quer dizer sem nem mesmo utilizar de palavras ou gestos, um olhar basta. Porém, muitas vezes também uma sentença interpretada de forma diversa pode ser a causa de grandes atritos, mesmo se estando diante do transmissor e em tese o conhecendo, sem a existência de qualquer mediador.

Agora, imagine-se também que o transmissor já não mais vive nesse mundo e que suas ideias persistem em escritos. Seria possível se ter a capacidade de compreender exatamente o que o autor queria passar? Considerando-se ainda que tal criador tivesse vivido em outros tempos (alguns anos já se mostram o suficiente para grandes mudanças na sociedade), seria possível enxergar com o mesmo olhar a sua visão?

A literatura plenamente visual, aquela que vinha perdurando até então, onde o leitor se comunica com as ideias do escritor sem mediação alguma (ou por vezes por meio de tradutores e/ou editores), força uma conexão com o intrínseco do leitor, geralmente de forma inconsciente, fazendo-o enxergar o dito pelo escritor mediante suas próprias experiências. Tal forma pode exigir mais esforço daquele que se dispõe a interpretar o dito apenas por decodificar caracteres padronizados e formais.

Todavia, no mundo globalizado e imediatista, com diversas possibilidades de mídias, cada vez mais se pode estar diante daquele que quer comunicar e não apenas ler, mas ouvir, ver, sentir. A Neovocalidade se apresenta como forma possivelmente mais eficiente de comunicação, uma vez que é fácil de o autor deixar clara suas intenções com aquilo que expressa.

Considere-se, a exemplo a seguinte frase: "Olhou-a nos olhos e disse que a amava." Qual o sentimento que tal trecho pretende manifestar? Felicidade? Tristeza? Raiva? Sem um contexto muito bem elaborado o leitor crivelmente refletiria seu estado de humor no momento da leitura. Todavia muito diferente seria se alguém em prantos, com expressão dolorida, dissesse isso. Graças a tecnologia, tem-se feito possível cada vez mais presenciar o autor, bem como interagir com este.

Sendo assim, apesar de grande amante da leitura tradicional, admito a importância de todos os outros sentidos como forma de absorção da arte e como facilitadores da propagação das ideias no meio.