Módulo 1

A dinâmica cultural, o respeito e a valorizacão da diversidade

Há quem tente explicar as desigualdades entre homens e mulheres, entre negros e brancos, entre heterossexuais e homossexuais, naturalizando-as, dizendo que são culturais, mas, nesse caso, pode-se perguntar quem faz a cultura.

A diversidade cultural é vital para um saudável dinamismo cultural. Diversidade que demanda respeito. Às vezes associada à idéia de “tradição”, a cultura foi pensada como algo imutável, que tenderia a se reproduzir sem perder suas características. Ora, a cultura, no Brasil, assim como em outros lugares, é dinâmica, muda, se transforma. Isso acontece em meio a um processo muitas vezes caracterizado pela idéia de “globalização”, o que significa, em grande medida, a “ocidentalização” de boa parte do mundo. É a partir da perspectiva que considera a cultura como um processo dinâmico de reinvenção contínua de tradições e significados que deve ser observado o fenômeno cultural. Os exemplos oferecidos aqui revelam um dos aspectos centrais da idéia de cultura: seu caráter dinâmico

Muitas vezes, se tem visto na cultura dos povos indígenas, ou mesmo na cultura popular, focos conservadores de resistência a qualquer tipo de mudança. A idéia de tradição, assim como a de progresso, deve ser interpretada dentro do contexto no qual ela se produz: é um valor de uma determinada cultura. Freqüentemente, questiona-se a possibilidade de um grupo indígena manter a sua cultura quando passa a adotar alguns costumes ocidentais ou a usar roupas e sapatos “dos brancos”. É comum se afirmar que deixaram de ser “índios de verdade”. Ora, a cultura dos povos indígenas, como a nossa, é dinâmica. Da mesma forma que assimila certos elementos culturais da sociedade envolvente, dando-lhes novos significados, ela rechaça outros. É importante salientar que esse processo se dá de forma diferenciada em cada grupo indígena específico.

Pensemos um pouco num processo semelhante existente em nossa sociedade.

Nas últimas décadas, a música “afro” da Bahia ganhou um espaço inusitado na mídia nacional e internacional; esse processo se deu paralelamente à incorporação de novos elementos por parte dos grupos baianos, que passaram a combinar a alta tecnologia (importada) – como as guitarras elétricas – aos tradicionais instrumentos baianos e aos novos instrumentos e ritmos trazidos do continente africano. Da África também chegam novas modas, cores e tecidos. Antes de chegar ao Brasil, a moda africana – de Angola ou da África Ocidental – foi consagrada na França e lá também foi reinventada. Vale, no entanto, a ressalva de que esses elementos de forma alguma caracterizam os blocos “afro” da Bahia como “mais” ou “menos” africanos. Além do mais, é importante salientar que o produto final desse complexo processo de “reinvenção da África no Brasil” é único, da mesma forma que a música africana na França corresponde a uma outra realidade, e o processo tal e como se dá na África também produzirá um resultado original.

Assim, a dinâmica cultural está diretamente relacionada à diversidade cultural existente em nossa sociedade. Esta se confunde muitas vezes com a desigualdade social – que deve ser combatida – e com um universo de preconceitos – que devem ser superados. Há todo um aparato legal e jurídico que promete a igualdade social e a penalização de práticas discriminatórias, mas a própria sociedade deve passar por um processo de transformação que implica incorporar a diversidade. Daí podemos concluir que não basta ser tolerante;  a meta deve ser a do respeito aos valores culturais e aos indivíduos de diferentes grupos, do reconhecimento desses valores e de uma convivência harmoniosa.

Consideramos, aqui, que a ação humana é regulada por motivos e normas. Os motivos que nos levam a agir de uma ou outra maneira podem estar relacionados a interesses pessoais ou coletivos, a razões e justificativas e a emoções. As normas, por sua vez, são impostas pela cultura, pelas instituições formais que repassam valores morais e implementam leis. A proposta do curso Gênero e Diversidade na Escola é desenvolver um processo de aprendizagem pautado nestes eixos: motivos e normas. Propõe-se conhecer e valorizar a diversidade, abrindo mão dos interesses pessoais pelos coletivos, oferecendo novos argumentos, novas critérios e informações na percepção da realidade.

A escola, cumprindo sua responsabilidade de formar cidadãs e cidadãos, deve oferecer mecanismos que levem ao conhecimento e respeito das culturas, das leis e normas. Deve investir na comunicação dessas normas a todos aqueles e aquelas envolvidos com a educação. Deve, como “aposta pedagógica”, ter um plano de ação para formar as cidadãs e os cidadãos para a valorização da diversidade, favorecendo o encontro, o contato com a diversidade.

avançar
A convivência com a diversidade implica o respeito, o reconhecimento e a valorização do/a outro/a, e não ter medo daquilo que se apresenta inicialmente como diferente. Esses são passos essenciais para a promoção da igualdade de direitos.