Fórum geral do projeto Educação Escolar e Cultura Maker

Atividade assíncrona

Atividade assíncrona

por Eduarda Boing Pinheiro -
Número de respostas: 7

Boa noite!

Conforme o combinado, não haverá encontro no dia 13/11, mas uma atividade assíncrona. Assim, pensamos em uma atividade de estudo individual, mas também a ser coletivizada no Moodle, como resposta a este mesmo fórum.

A atividade consiste em: Escolher um dos materiais da lista de referências [acesse aqui], ou outro que achar pertinente para ser compartilhado com o(a)s colegas. Sugerimos...

  1. socializar o material escolhido ou acrescentado à lista;
  2. as reflexões que surgem a partir da aproximação com este material;
  3. as relações com os encontros que tivemos até aqui (as gravações e materiais utilizados em todos os encontros estão disponíveis no Moodle). Aqui cabe explicitar dúvidas/sacadas/inspirações referentes aos materiais e às nossas conversas.

Qualquer dúvida, estamos à disposição. Abraços e até mais! 

Em resposta à Eduarda Boing Pinheiro

Re: Atividade assíncrona

por Celso Vinicius Schelbauer -

Bom dia pessoal! Tudo bem com vocês? Eu espero que sim!

Bom vamos lá...eu busquei um material referente a área que é de meu maior agrado, o campo da ciência, das inovações e da biologia, com base nas referências que deixarei listado ao final do texto, destaquei algumas frases que considerei extremamente importantes para o nosso movimento maker/hacker e que, acredito eu, devemos tomar como norte para seguirmos nosso trabalho.

- O DIY (Do It Yourself) desafia as relações convencionais de produtor e consumidor.

- É uma cultura liberalista do capitalismo rompendo a sistematização de produtores únicos e especializados --> comsumidores passivos.

- O hacking de lixo (E-waste hacking) surge como uma forma de combater a obsolescência programada de muitos produtos e tecnologias.

- Os hacks divulgam os objetos como indeterminados (sem forma/objetivo único) e modificáveis.

A partir desses tópicos, das nossas discussões e de outros pensamentos que muitas vezes vagam pela mente eu entendo que o movimento maker/hacker seja algo parecido com o que nós, seres humanos, já fazemos com a natureza, observamos o seu funcionamento, buscamos entender como determinado evento acontece e "inovamos" com um equipamento novo ou uma nova tecnologia para a sociedade como um todo, mas que a muito tempo já existe na natureza (como exemplo trago a invenção do velcro: tecnologia "inventada" na década de 50 mas que a muitos milênios já era utilizada pelas plantas em seus frutos para dispersão das sementes, quando estes se prendiam a pelagem dos animais). Ou seja "hackeamos" a natureza e tiramos proveito disso, o movimento hacker/maker tem essa pegada, desenvolver a observação clínica/científica/analítica/apurada para o funcionamento e a montagem dos equipamentos e tecnologias existentes e tentar, de maneira própria, adaptar ou reproduzir elas, visando a sua aplicação no cotidiano melhorando a qualidade de vida das pessoas como um todo, pois garante a facilidade de acesso a equipamentos e tecnologia muitas vezes caros de serem adquiridos. Não preciso nem dizer que isso tem tudo a ver com educação, reciclagem, saúde, meio ambiente, entre muitas outras esferas da sociedade.

Para finalizar deixo mais dois tópicos incríveis, novamente retirado das referências abaixo.

- Descubra o problema, veja o que você precisa e o que pode obter, seja criativo e use o que está ao seu redor.

- A biologia foi considerada sagrada, você não pode manipular a biologia ou, se o fizer, está brincando de Deus. A biologia sempre mudou e sempre se manipulou: esse é o processo evolutivo e dinâmico. Se não fosse assim, não teríamos a cura de inúmeras doenças, usar um simples analgésico para a dor é uma forma de hackear a nossa biologia.

 

Perdão pelo texto longo ;-p

Espero ter abordado todos os questionamentos, bom final de semana pessoal e vamos conversando!

Celso Vinicius Schelbauer.

 

LANDRAIN,   T.;   MEYER   M.;   PEREZ,   A.   M.;   SUSSAN,   R.   Do-it-yourself   biology: challenges  and  promises  for  an  open  science  and  technology  movement. Systems  and Synthetic Biology. V. 7, Issue 3 pp. 115 - 126, 2013.

HACKTERIA. DIT Microscopy. Disponível em < www.hackteria.org/wiki/DIY_microscopy >. Acesso em 29 de dezembro de 2019.

 

DELGADO, A., CALLEN, B. Do-it-yourself biology and electronic waste hacking: a politics of demonstration in precarious times. Public Underst. Sci. 26, 179–194, 2016.  Disponível em <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5302075/>. Acesso em: 26 de dez. de 2019.

Em resposta à Celso Vinicius Schelbauer

Re: Atividade assíncrona

por Eduarda Boing Pinheiro -

Oi, Celso! Achei muito interessante a comparação que você fez entre a atuação nos espaços maker e a forma com que lidamos/investigamos a natureza. Importante também refletir sobre essa possibilidade de o movimento maker impulsionar novas formas de produção e de consumo, seria legal se conseguíssemos nos aprofundarmos nessas discussões sobre o assunto.

Em resposta à Celso Vinicius Schelbauer

Re: Atividade assíncrona

por João Paulo Mannrich -

Oi, Celso. Muito interessante que você foi por esse caminho. Tem muitas coisas importantes nesses elementos que você aponta e que dizem respeito as formas com que produzimos conhecimento na sociedade, inclusive dentro da escola. Mas, para não me alongar muito, essa vertente do "Do It Yourself Biology" (DIYBio) é um universo incrível. Já imaginou fazer um teste de PCR de Covid em casa? É um pouco disso que esses grupos defendem.

Há um documentário na Netflix chamado "

" que mostra a galera hackeando a biologia em casa, inclusive mexendo com engenharia genética, abordando os potenciais, mas também os riscos de se fazer isso. Já assistiu?

E aqui me remete a pensar em outra coisa que tem a ver essa coisa de produtor/consumidor que você aponta. Em países como EUA, Canadá e muitos da Europa, há uma legislação que permite você fazer quase qualquer coisa em casa, inclusive trabalhar com OGMs (veja o exemplos desses

que permitem "editar" o citoplasma(?) de bactérias para elas brilharem no escuro). Já no Brasil, por exemplo, isso é restrito a laboratórios especializados. Ou seja, de alguma maneira, enquanto país, também somos "alocados" como consumidores dessa coisa. Lá fora a "gurizada" está fazendo engenharia genética em casa, coisa que aqui muitas vezes os laboratórios especializados não conseguem fazer...

Hoje, conversando com um produtor de abelhas sem ferrão, ele me disse que faz uma espécie de "melhoramento genético" nos enxames para que eles fiquem fortalecidos. Me parece que isso se encaixa na última frase que você destacou a respeito dos seres humanos (biologia) sempre ter manipulado a natureza para se beneficiar de alguma maneira disso. Fiquei pensando se esse tipo de coisa não poderia ser objeto de estudo/prática no contexto do projeto EducaMaker?!?!

Fiquei curioso para saber se você teve alguma ideia de como essas coisas poderiam ser abordadas com os estudantes no contexto da cultura maker...
Desculpa se me empolguei também. Abraço!

Em resposta à Eduarda Boing Pinheiro

Re: Atividade assíncrona

por Eduarda Boing Pinheiro -

Boa tarde, pessoal! Para compartilhar com vocês algumas das minhas opiniões e reflexões quanto aos nossos encontros me inspirei no texto de Paulo Blikstein, José Valente e Éliton de Moura (2020), intitulado “Educação Maker: onde está o currículo?”. Não se acanhem caso queiram se aprofundar nesse mesmo texto, será muito bacana se mais pessoas trouxerem suas ideias sobre ele para aumentarmos a discussão.

Escolhi esse texto porque noto que a questão curricular vinculada ao trabalho nos laboratórios maker tem se apresentado em vários momentos dos nossos encontros, e confesso que é uma preocupação minha também, quando penso sobre o assunto. Estivemos refletindo sobre as relações entre a educação maker e os conteúdos escolares, as faixas-etárias a serem mobilizadas, o formato das avaliações, o reflexo na comunidade de São Bento do Sul... São legítimas tais inquietações, as quais se aproximam da preocupação de Blikstein, Valente e Moura (2020) de que a educação maker não seja desenvolvida como potencializadora dos processos de ensino, mas como um adereço propagandístico desarticulado com a ideia de uma educação democrática e libertadora.

As possibilidades de abordagens e relações com questões fundamentais ao contexto escolar se fizeram constantes em nossas falas. Podemos notar, então, que nossas expectativas quanto aos laboratórios maker não se justificam apenas em uma interação do(a)s estudantes com a tecnologia, mas que seja uma possibilidade de transformar a escola e o contexto em que está inserida. Retomando a ideia do próprio projeto da prefeitura, identificamos que esta (a transformação social a partir do engajamento escolar dos sujeitos/estudantes em vulnerabilidade) é o objetivo central de todo esse movimento.

No entanto, como desenvolver atividades pautadas em aspectos sociais quando temos um extenso currículo a cumprir? Talvez um ponto chave nesse caso, e que podemos encontrar no texto (p. 528-529), se refere ao que o currículo contempla: “conteúdos, métodos, procedimentos, instrumentos culturais, experiências prévias e atividades”. Nesse sentido, podemos pensar que algumas abordagens, se abdicarem de conteúdos para explorarem aspectos culturais e/ou sociais, não estarão necessariamente ignorando o currículo, desde que estejam de acordo com a construção do que tem centralidade no currículo: o conhecimento.

 

BLIKSTEIN, Paulo; VALENTE, José; MOURA, Éliton Meireles de. Educação Maker: onde está o currículo? Revista e-Curriculum, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 523-544, 2020. Disponível em: http://bit.ly/3h1NNrz. Acesso em: 13 nov. 2020.

Em resposta à Eduarda Boing Pinheiro

Re: Atividade assíncrona

por João Paulo Mannrich -

Oi, Duda. Acho que minha resposta a atividade se conecta com a sua. Eu li o texto "Crianças não são hackers...". Os autores problematizam várias dimensões desse movimento maker que surge no Vale do Silício (centro de desenvolvimento de tecnologias norte americano). Umas dos pontos que me chamou a atenção diz respeito a conexão que as propostas de projetos/atividades possuem com as realidades dos indivíduos e em como isso de fato contribui para o compromisso de equidade na educação. Destaquei o seguinte trecho:

"Outro componente desta cultura [cultura maker do Vale do Silício] é sua visão do que é tecnologia e para que ela serve: aplicativos, eletrônicos, telefones celulares, foguetes, carros - projetados dentro de um ambiente de afluência [Vale do Silício], onde a gama de problemas do mundo real é bastante limitado: regar o gramado automaticamente? Ligar e desligar as luzes de casa enquanto você está viajando? Um skate elétrico para levá-lo a escola? Pilotar um quadrocóptero? Esses tipos de projetos projetados para resolver (muitas vezes frívolos) problemas de "primeiro mundo", apesar de seu apelo a uma determinada população/nação, pode ser bastante estranho para crianças de uma família de baixa renda, com nenhum gramado, orçamento de viagem ou dinheiro para brinquedos caros. Isso também rebaixa e desvaloriza projetos como artesanato tradicional, trajes, cerâmica, tecnologia vestível e joias, entre muitos outros (Buechley, 2013)." (BLIKSTEIN; WORSLEY, 2016, p. 4, tradução livre)

Me parece claro que os autores defendem o desenvolvimento de projetos que tenham relação com o contexto local dos indivíduos. Eles também comentam da necessidade de alterar uma ideia comum apresentada nessa vertente do Vale do Silício que tem um grande alinhamento com o desenvolvimento das ditas "competências do século XXI" orientadas à uma preparação precoce para o "mundo/mercado de trabalho". Essa alteração seria no sentido de uma Cultura de Alfabetização (Literacy Culture) na perspectiva de permitir que os indivíduos ampliem sua capacidade de ler o seu mundo também para transformá-lo.

Nesse sentido me parece central pensar em como a noção e configuração de currículo pode suportar essa perspectiva de educação.

Obs.: com relação ao título do artigo "Crianças não são hackers..." a ideia dos autores é discutir que as crianças não são autodidatas e não possuem hábitos e ambientes de trabalho como os hackers. Isso implica que precisam ser ensinadas a desenvolverem autonomia e os professores possuem um papel centra nisto.


BLIKSTEIN, P.; WORSLEY, M. Children are not hackers: Building a culture of powerful ideas, deep learning, and equity in the Maker Movement. In K. Peppler, E. R. Halverson, & Y. Kafai (Eds.), Makeology: Makerspaces as learning environments (Vol. 1, pp. 64–79). New York: Routledge. 2016. https://tilt.northwestern.edu/assets/papers/childrenarenothackers.pdf

Em resposta à Eduarda Boing Pinheiro

Re: Atividade assíncrona

por Arlene Docilio da Silva -

Olá, boa noite.

Quanto material para se fazer uma leitura ampla e trilhar dentro da cultura maker. Dei uma lida nesse material onde fala da Análise da crescente influência da Cultura Maker na Educação.

E me chamou a atenção para as 10 competências identificadas por Thomas Maker dentro da abordagem da cultura maker, onde ao se envolver, o aluno é capaz de desenvolvê-las.

São elas:

  1. conhecimento
  2. pensamento científico, crítico e criativo
  3. repertório cultural
  4. comunicação
  5. cultura digital
  6. trabalho e projeto de vida
  7. argumentação
  8. autoconhecimento e autocuidado
  9. empatia
  10. responsabilidade e cidadania

Em nossos encontros, chegamos a discutir o quanto nossos alunos teriam um desenvolvimento positivo em termos de responsabilidades, de ter foco, ter objetivo no que ele quer para seu futuro. Analisando as competências acima, podemos constatar que eles podem ir além, se desenvolver no todo, desde um cuidado pessoal a um cuidado com o outro, com o mundo, sendo proativos e consequentemente obtendo um desenvolvimento pessoal de sucesso. Isso é um sonho, para nós professores com nossos alunos.

Porém, segundo a Revista, há uma carência de estudos sobre como avaliar o desempenho dos alunos nas atividades makers. Assunto que também discutimos nos encontros, a avaliação. E ainda a falta de estudos para analisar como as competências são contempladas ao se atrelar a atividade maker ao currículo escolar, isso dentro do contexto educacional brasileiro. 

Fazer essa ponte entre atividades makers e currículo escolar é uma peça chave para todo o desenvolvimento da cultura maker dentro das unidades escolares. É um trabalho que inicialmente irá contemplar uma pequena parcela da comunidade escolar e dependendo dos resultados poderá abranger um número maior de docentes e discentes. Proporcionando uma transformação de grande impacto no perfil de nossos estudantes e consequentemente da nossa sociedade.

Seria isso, peço desculpa pela demora do envio e também se me desviei na linha de raciocínio em algum momento. 

 

 

PAULA, B. B. de; MARTINS, C. B.; OLIVEIRA, T. Análise da crescente influência da Cultura Maker na Educação: Revisão Sistemática da Literatura no Brasil. Revista de Estudos e Pesquisas sobre Ensino Tecnológico, v.7, e134921, 2021